sexta-feira, 26 de junho de 2009

Métrica Desiludida







Tem dias que a vida não cabe no soneto
não encaixa a vida no reles verso curto.
Não é possível nem na frase que não se soube dizer.
Em coisa alguma a vida já não cabe.

Amigo me perdoe se tem dias que o verso
que o verso é que não cabe na vida,
na falta da métrica,na palavra que não se soube dizer.

Às vezes é assim,
não coube a vida em coisa alguma,
em mim, em você,
nem mesmo em uma canção desafinada.

Tem dias em que a poesia não cabe na vida
que se deixou para amanhã, aquela
que se deixou para depois do depois do depois
e por simplesmente não se saber fazer
nada se fez.

E tem os dias extraordianários
excêntrica poesia existe nestes dias
quando já não cabe nada em coisa alguma.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Labirinto







...perder perder encontrar encontrar
vem comigo entra no labirinto
o labirinto é belo

o meu reino secreto
vem comigo perder para encontrar
perder para nascer dentro do labirinto
onde todos os caminhos são bons e nossos

mas é preciso antes perder para achar
é preciso perder perder para encontrar
sem medo
me dá a mão e te levo
deixa eu te mostrar como o labirinto é belo
vem comigo e digo

no meu reino, no labirinto
não tem medo
olha,
os jardins,
a cor, o calor, a
música, a paz
no lugar onde te guardei
vem se perder sem medo

- vem que eu tenho uma bússola,
para se achar para se perder...

domingo, 14 de junho de 2009

No Colo do Amor Impermanente








A flecha envenenada do ciúme fincada na minha garganta me tira o ar.
Estanco a dor a fingir que nada me feriu.
Negro e fétido é o ciúme quando me faz vibrar nas costelas o ar que nao tenho para respirar.
Picada de cobra é o ciúme.
O ciúme é o veneno que me rasga as veias e no silêncio me ponho a sofrer.
Você não sabe, nem nunca vai saber, do ciúme que me corroi, me deixa séria e vazia.
É na veia do pescoço que o ciúme me dói mas eu espero.
Faço pequena incisão ali onde a veia explode. E te peço:
- Vem, cura-me...
E o veneno não me faz mal, faz mágica.
Porque eu que sou feita de amor te sirvo
Ao invés de perguntas tolas, beijos
E ao invés de palavras duras, coisa de mulher insegura,
Te dou meus olhos para te mostrar o mundo,
Risos dias felizes liberdade vontade sonhos doçura minha e tua
Nada de ciúme, antes o colo amor, o desapego
Desapego tão forte de querer-te por dentro,
O que posso dar a mais do que o tudo que tenho
O maior amor do mundo amor
Feito desta vida impermanente

Estendo as mãos, sou tua, só tua.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Sol da Meia-Noite




Eu queria poder te contar coisas, coisas que descobri sem querer, no estalo, como dizem por aí. E te dizer daquelas que aprendi no tempo, na solidão e no meu próprio tumulto. Queria poder te ligar, te encontrar de repente, só para revelar que descobri - acima de tudo - a graça da vida, a beleza dos detalhes. O belo está no detalhe. Dos objetos, das pessoas, do gesto, das histórias.

Eu bem sei que tudo já foi dito. Mesmo isso de escrever que tudo já foi dito, já foi escrito. Estamos em uma conhecida repetição. Façamos direito, sejamos autênticos. É decisão nossa onde colocar o detalhe. E ele nos libertará.  Estou certa de que a vida de uma pessoa se define muito mais no detalhe,  do que nos grandes feitos. Porque tanto as gentilezas quanto o amargor podem mudar o rumo de uma história.

Por isso, eu queria te contar sobre as minhas pequenas jóias, vivências sobre as quais não se dá importância. Eu descobri que nem todo fim é marcado por tragédia  e  até  na tristeza pode haver compreensão, entendimento. O antes do fim, o antes do fim é intenso, é uma canção de amor, um lamento apaixonado, digno. O antes do fim é feito de fenômenos,  orgasmos, beleza, noites brancas. E depois - tudo bem - algum sofrimento e choro.

Queria te ligar, mas às vezes é dificil, é estranho te falar sobre os detalhes - e sobre esta descoberta que ao mundo parece irrelevante mas para mim, faz todo o sentido do mundo. E gosto de pensar que serei bem-vinda, amorosamente bem-vinda, porque é muito este pouco que tenho para te dar.

Quero te dizer que existe ciência nas coisas independente da nossa vontade e que a vontade, que nos faz desejar incondicionalmente, é fundamental mas não é ciência de fato, é ciência íntima. Quando o telefone tocar, você vai atender, vou te convidar para um café, depois me sentarei à sua frente e te falarei sobre o Sol da Meia-Noite, o maravilhoso crepúsculo. O antes do fim é o Sol da Meia-Noite repleto de arrebatamento e clamor quando o sol não se põe durante - e até - noventa e cinco horas.

Quero ir à Finlândia, para recostada numa espreguiçadeira de madeira, comer um sanduíche de salmão, enquanto assisto sem pressa ao pôr do sol. Depois, vou descansar a minha mão sobre a tua nesta hora, quando qualquer palavra se tornará imprópria.

Vou viver os detalhes, os mínimos detalhes da cena, sentindo a eternidade de noventa e cinco horas.  
Eu nunca fui à Finlândia e nunca vi o Sol da Meia-noite.
Eu só conheço você e eu.