quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Inventário

O inventário começa em 2007 e chega ao dia de hoje: trinta de dezembro de dois mil e nove. Respondo para quem um dia me perguntou se eu mudei desde então. Respondo o meu  inventário, em vida. Hoje é dia de olhar de frente e responder que sim, tudo mudou, e nada mudou - existem as transformações - para quem está realmente vivo é importante fazer a escolha de quem você quer ser. E viver, e morrer, a todo instante. Saber estar igual de modo diferente.

Quatro de Janeiro de Dois Mil e Sete

"Quatro de janeiro de dois mil e sete. Não vou escrever números, só palavras. Palavra, palavra-som, cheia de um inenarrável significado, palavra música clássica, incidental e inconsciente.

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Escrevo as palavras com a voracidade de quem procura algo acima de, na profundidade, abaixo de, na escuridão maior, na tangente. É um jogo entre nós, a palavra nunca me alcança, porque eu preciso daquilo que não é, do que passa no acostamento, eu preciso do não significado. Eu preciso da palavra viva.
Procurar, procurar, verbo cheio de angustia e possibilidade...

Conheci uma vez um homem que era procurador de tesouros, quisera eu ser como ele ter o olhar distante, a pele queimada, pescador de histórias e do silêncio imortal do mar. Não quero objetos. Vou procurar a simplicidade, esta pequena pérola perdida.

Estou escrevendo o ano de dois mil e sete. Já ancorei nele. Começa a expedição.
Quisera eu acordar diferente no ano que começa. Alguém melhor do que até hoje fui e sem esta confusão de ser. Quisera estar resolvida. Ter esvaziado a bolsa dos velhos papeis, contas pagas, frases, o amor que não pediram, os mal entendidos e nas reticências colocar ponto final. Quisera eu não ter sentimentos maiores do que posso suportar, tê-los corretos acerca de, acerca do, baseado em, ser mais adequada a respeito de todas as decisões e que isso me trouxesse uma fleumática sensatez.
Quisera eu que o novo ano me limpasse o alvoroço da alma, o modo insensato de gostar e me trouxesse uma esperança em gotas, diariamente, para que ela nunca me faltasse e fosse me revirando as cismas e me levasse os recalques e fosse me curando devagarinho as tristezas, pois até mesmo das tristezas a gente pode sentir falta.

- Chega logo Ano Bom e me livra dos extremos, diz abra-te sésamo, para que eu possa entrar, me faça ser previsível e lógica, sem desatinos e insônias, e me dá novos olhos para enxergar o mundo que meu teimoso coração não quer.

Que eu tenha menos atitudes, mais lentidão e mais verdade, sem as enormes agitações do espírito. Sou paciente, é certo, mas tem um mar profundo em mim, um lugar onde minha respiração não alcança, onde ouço trombetas, onde o meu desejo mais recôndito é temer os mistérios e ao mesmo tempo desejá-los.

Vem dois mil e sete não estou presa a nenhum fado, penso, faço, sinto, mudo, no entanto, dentro de mim ainda mora um desespero oculto - dores que chorei e não passam - por isso mesmo viver não deve ser um ato medíocre, quero estar dentro da vida para que ela me viva, quero a vida como ela me quer: de todos as maneiras. Deixo que ela venha para aceitá-la complexa, finda e sobrenatural.
Dá-me tudo isso porque estou pronta, mas dá-me sobretudo um coração bondoso e compassivo onde as vidas possam encontrar abrigo."


Tinta de Dezembro de 2009.

Em mil novecentos e oitenta e nove, no dia trinta de Dezembro, estava sol, e no céu um azul muito claro, mas minha irmã faleceu, aos vinte e dois anos de idade e ao meu lado um bebê de quatro meses. Hoje acordei pensando nela, minha irmã. Muito embora não fique mais triste, uma saudade grande me pegou desprevenida. Senti uma alegria também, uma alegria boa e leve, como uma descoberta em segredo, daquelas que a gente só tem na infância. O que eu senti foi uma espécie de certeza íntima - se eu pudesse explicar diria que foi um momento de interseção, nada matemático, mais para metafísico, quando entre o passado e presente não há mais nenhuma lacuna. Não há espaço no tempo, nem dúvida. Nada ficou para trás, nem esquecido. Eu tive um momento, um momento de compreender pela emoção a perfeição ilógica da vida. Estou em mim e a vida também está. O mundo está dentro de mim.


A vida é um quadro impressionista - e eu que já escrevi sobre isso, senti agora a perfeição. A distância entre o borrão e a arte. Estou no passado mas sem melancolia. Ninguém se foi, ninguém se perdeu. Estão todos comigo. E tem algumas histórias que precisam contadas, com algum talento. Eu farei, sem temer, sem lamentar.
Quantas e quantas vezes em uma mesma vida as situações se repetem, como um filme que a todo momento retrocede? - Por favor, eu digo, nada de repetir cenas. Façamos sempre o melhor, mas façamos vontade. Eu não tenho vergonha da vida. Vou buscar o tom certo, vou deixar que ela me viva para que seja realmente minha.

O texto de 2007 diz muito sobre essas vidas dentro da vida. Eu sou muitas e serei ainda outras. Assumo de vez acontecimentos, o choro e o medo. Ah, o medo estraga a gente. Os recalques nos transformam em carrascos cínicos de nós mesmos. Dois mil e sete passou e levou devagar as minha tristezas, conforme pedi, e de algumas já nem sinto falta.
Que venha 2010, vou procurar tesouros!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Eu Danço Sem Música

Foi sem querer que o amor chegou e logo fez rebuliço - e eu que não sou disso, nem sei o que dizer, eu sei que eu sei fazer poema e amor eu digo,
bem perto de você quando estou sem respirar eu suspiro;
E eu bem sei, eu sei que isso, a coisa do suspiro, pode me entregar, mas será que você sabe o que se passa,  quando eu te vejo - eu tenho medo - mas não me importo, eu não ligo.

Vem acordar junto comigo e vamos criar nossos filhos.
A vida não é a lógica grotesca é um sentir abençoado.
Vem sentir comigo o que não foi planejado.
A vida é o dificil que fica fácil, fácil.

Não, você não sabe, você não gosta de sambar, você não gosta dessas coisas doidas de não saber explicar,
onde está a lógica da arte, eu não sei, eu não sei,
eu sei que não preciso entender nem pensar.

A vida não é difícil deixa
que eu te ensino a ser diferente, a ser mais contente a não ter medo de errar.

É como o amor, amor que eu não sei dançar mas danço sem saber dançar a dança;
Eu gosto do jazz e do tango e tenho preguiça às vezes de pensar, então eu danço sozinha
eu danço sem saber dançar a dança que eu não sei dançar a dança que só eu sei dançar;

Vem, que eu seguro a sua mão e faço a música - enquanto a noite não amanhece.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Amor de LuXo

Amor feinho
Beleza tem sim
Pouca
Mas o sorriso, meu deus
E a boca,
Divinos


Amor feinho
Beleza tem sim
Pouca
De homem moderno
Algo antigo, terno
Despido confesso de toda armadilha


Tímido, estético
Lúdico o homem, eu quero
A tua arte
O teu recheio de talento


Amor feinho
Beleza tem sim
Pouca

E se o meu rosto encontra, sem querer
O traço naif do teu pescoço
Descanso
Só pode ser amor, feinho

Eu sei, eu sei, amor feliz
Daquele bem espontâneo