quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Carta de Amor (In) Acabada

Pensei em te escrever uma carta de amor em folha de papel de seda, caneta tinteiro, palavras em desalinho e aquele glamour Dry  Martini meia luz que já não existe mais, nem no amor.
Pensei em te escrever uma carta de amor entre os goles discretos do Gim, Jazz na vitrola, paredes em tom pastel e estantes abarrotadas de livros, que também já não existem  mais.

E eu te escreveria amorosamente sobre as metáforas necessarias ao grande amor. A incongruencia, olhares, distancias, silencio, o medo das coisas inexplicáveis do amor. Do grande amor.
Eu te diria que talvez eu não saiba amar, se amo as tuas impossibilidades, a tua rudeza, este amor quase triste. E eu quero te dizer que a poesia está no amor não realizado enquanto me pergunto que especie de amor existe na incapacidade de ser intenso, verdadeiro e livre? Um amor que não existe mais.

Então, lá pela terceira azeitona molhada no Gim.- de um dry martini nada dry - eu te conto amorosamente minhas crenças e imagino um certo sorriso teu quando - e se por acaso - este bilhete te alcançar. O bilhete de amor que também já não cabe mais nos nossos tempos, nas necessidades do ser prático.

Já não existe mais. Papel de seda, tinta, dry martini, meia luz. Tudo isso, tão antigo como eu. Aquela que diz quase nada, sim eu sou silenciosa e se te escrevo, escrevo amorosamente porque não existe fração, eu me digo sempre e por inteiro, em cada detalhe. O que agora nem importa mais.

Eu te escrevo apenas para me confessar, uma confissão poética e sem nenhuma culpa.

Sou aquela que prefere adivinhar cada segundo, sem medo de ser comum, sem medo de ter tremores ingenuos e pensamentos por estar contigo. E eu, eu sou tão comum que te escrevo, eu te escrevo para dizer o obvio: tenha certeza de que o amor só vive na poesia, na poesia livre, sem a prisão das rimas e sem a previsivel logica da vida. O amor não é escravidão, não é prisão de especie alguma , o amor é este tipo de liberdade que já não existe mais.

E esta carta era para ser só amor mas virou manifesto. E eu só queria te ensinar sobre um modo de amar que já nem existe mais, nem no amor.

Eu te amo à luz da vela e com muita simplicidade.