terça-feira, 25 de março de 2008

Da Arte de Ser Naif


Naif segundo o Houaiss:

- "diz-se de ou certo tipo de pintura, escultura etc. espontânea e autodidata, desvinculada de escolas convencionais, que resulta em composições primitivas, ger. detalhadas e de fácil compreensão"
- "que ou aquele que se caracteriza pela simplicidade, desconhecimento ou ingenuidade"


Gerson Alves de Souza. É naif.

Ele não possui uma técnica? Ingênuo, primitivo, autodidata?
Não importa.
Gerson é Naif e foi além. Criou sua propria técnica. A técnica da cor pulsante, da pintura viva. Com estilo, recortou o cotidiano e o colocou na moldura, encheu de graça e crítica histórias cansativas - reinventou o particular e se tornou universal.

Eu também sou naif e devo a ele a certeza de um dom a ser exercido e não um defeito a ser tolerado. Busco a simplicidade mais profunda e o traço complexo que nasce em lugares onde a técnica não alcança. Desejo desconhecer as artimanhas do pensamento e preciso sentir o que for autêntico. Ir além das palavras, enxergar o antigo e corriqueiro sob novas formas. O conteúdo, e não o conceito, me emociona, me emociona demais o que for peculiar. E o Gerson é assim. Peculiar e intenso. Naturalmente revolucionário, na estética, no olhar sobre o mundo, na compreensão do que é humano, naquele tom de vermelho só seu.

Estou de luto. Estou de luto mas minha dor não é sombria e meus trajes não são negros. Estou de luto em trajes coloridos porque a morte não existe. A morte é apenas mais um conceito. Meu luto, repleto de tintas e imagens, não é decorativo, nem figurado, estou como as mulheres da Lapa, com o olhar melancólico, mas quem ousaria dizer que não há esperança na tristeza transformada? A vida existe para os mortais - para o artista, a obra. Gerson está vivo, com o olhar doce, quente, inteligente. A vida é contínua e, para além dela, há um Céu que nos é entregue - e é aquele no qual nosso olhar existe - o lugar que a nossa força criativa constrói.
Ainda estou com os olhos do artista a me estudar, em sintonia com o pintor, o lírico, o poeta e sei que ele agora deve estar ocupado, observando, a inventar novas paletas para pintar o Céu com cores mais vivas.







2 comentários:

Izabela disse...

Escrever não é como pintar? Experimentamos cores, formas, materiais... É como brincar de boneca e trocar suas roupas. Uns buscam o domínio da técnica e a consagração. Eu busco as possibilidades, a construção e a desconstrução. Mas confesso, ao menos eu acho... que meus tons são, em sua maioria, pastéis.

O dia em que me sentir - de fato - colorida, aberta, madura, mulher, mãe... talvez consiga desvendar e escrever sobre o artista que eu tanto amo: Gustav Klimt. ;)

Lindo e leve, como sempre...
Bjs

Izabela disse...

Já li todos...
Quero mais!!!
?????????????
Bjinhos.