quinta-feira, 9 de agosto de 2007

QUATRO DE JANEIRO DE DOIS MIL E SETE

Quatro de janeiro de dois mil e sete. Não vou escrever números, só palavras. Palavra, palavra-som, cheia de um inenarrável significado, palavra música clássica, incidental e inconsciente. Poesia.aiseoP PoesiA.AiseoP.Poesia.

Escrevo as palavras com a voracidade de quem procura algo acima de, na profundidade, abaixo de, na escuridão maior, na tangente. É um jogo entre nós, a palavra nunca me alcança, porque eu preciso daquilo que não é, do que passa no acostamento, eu preciso do não significado. Eu preciso da palavra viva.
Procurar, procurar, verbo cheio de angustia e possibilidade...

Conheci uma vez um homem que era procurador de tesouros, quisera eu ser como ele ter o olhar distante, a pele queimada, pescador de histórias e do silêncio imortal do mar. Não quero objetos. Vou procurar a simplicidade, esta pequena pérola perdida.

Estou escrevendo o ano de dois mil e sete. Já ancorei nele. Começa a expedição.
Quisera eu acordar diferente no ano que começa. Alguém melhor do que até hoje fui e sem esta confusão de ser. Quisera estar resolvida. Ter esvaziado a bolsa dos velhos papeis, contas pagas, frases, o amor que não pediram, os mal entendidos e nas reticências colocar ponto final. Quisera eu não ter sentimentos maiores do que posso suportar, tê-los corretos acerca de, acerca do, baseado em, ser mais adequada a respeito de todas as decisões e que isso me trouxesse uma fleumática sensatez.

Quisera eu que o novo ano me limpasse o alvoroço da alma, o modo insensato de gostar e me trouxesse uma esperança em gotas, diariamente, para que ela nunca me faltasse e fosse me revirando as cismas e me levasse os recalques e fosse me curando devagarinho as tristezas, pois até mesmo das tristezas a gente pode sentir falta.

- Chega logo Ano Bom e me livra dos extremos, diz abra-te sésamo, para que eu possa entrar, me faça ser previsível e lógica, sem desatinos e insônias, e me dá novos olhos para enxergar o mundo que meu teimoso coração não quer.

Que eu tenha menos atitudes, mais lentidão e mais verdade, sem as enormes agitações do espírito. Sou paciente, é certo, mas tem um mar profundo em mim, um lugar onde minha respiração não alcança, onde ouço trombetas, onde o meu desejo mais recôndito é temer os mistérios e ao mesmo tempo desejá-los.

Vem dois mil e sete não estou presa a nenhum fado, penso, faço, sinto, mudo, no entanto, dentro de mim ainda mora um desespero oculto - dores que chorei e não passam - por isso mesmo viver não deve ser um ato medíocre, quero estar dentro da vida para que ela me viva, quero a vida como ela me quer: de todos as maneiras. Deixo que ela venha para aceitá-la complexa, finda e sobrenatural.
Dá-me tudo isso porque estou pronta, mas dá-me sobretudo um coração bondoso e compassivo onde as vidas possam encontrar abrigo.

Um comentário:

A.Nanda disse...

amiga, to relendo desde o primeiro, q isso inspira...
e esse tem 2 anos, o q mudou? o q continua igual?
vou escrever sobre isso!