quinta-feira, 4 de outubro de 2007

...Diário Intimo De Uma Vida...

Rio de Janeiro, 04 de Outubro de 2007 (17:53)

...Vagamente, como uma bruma a encobrir a paisagem que pouco a pouco fosse esvaindo e pedaços do que existe se mostrassem, mas não por completo, apenas o contorno e a idéia, a deixar para nós a escolha do desenho final.
...Vagamente, a madrugada, linda, aveludada, cansa aos olhos por muito, muito admirá-la mas são segundos tão encantados que aos nossos olhos não parecem reais, e chega a aurora, linda e tão mansamente, que não podemos vê-la chegar.

Começo este Diário. Sem nenhuma verdade ou pré-requisito estas palavras sem o menor sentido. Sem definição deixo estar, pois que até para a perfeição deste mundo houve a intervenção sem hora marcada. O acaso não é burlesco, o acaso é divino. Deus existe no despreparo, existe fora da receita, e também eu me apresento, como alguém que jogou fora o rascunho, vou contar a história sem nenhum enredo. Deste modo seguirei pelo avesso, e às vezes, vou ali, pelo direito, vou apenas escrever, escrever como quem escova os dentes, pela necessidade absoluta de se manter, na relutância e no prazer,com algum senso de normalidade. (assunto para depois)

Um diário, quem diria! Logo eu que tenho certos cansaços - também os tenho para o óbvio - e se realizo coisas, é por pura obrigação de existir com alguma dignidade, ou forte neurose mesmo. Afinal, nasci no final dos anos 60, sou mulher, já pensei sobre isso, a mola que move o mundo é a mola das compulsões e das neuroses, não a da inteligencia, ou da bondade, e seja de que gênero for, sim, foi este tipo de coisa estranha que nos fez chegar até aqui: cismas, neurastenias, loucuras e muita compulsão.

E nos obriga a ir em frente, isto sim senhor, esta espécie de necessidade sem nenhum glamour, que mal consigo explicar, e nem mesmo sei se devo, não quero ser didática, quero atirar a lógica ladeira abaixo, quero escrever este diário, deste modo - como quem dita para si a própria Bíblia. Que seja um diário, humano e intimo, cheio de poesia, tristeza e glória, o meu livro de notas e aberrações. Também o quero sem fórmulas e quando alguém o ler que faça sem procurar respostas, mas o sinta de forma única como eu o senti, que o tome como seu...

Então, vou começá-lo sem nenhum plano porque toda realização começa do desgoverno: neuroses e instinto de sobrevivência, e eu me qualifico entre essa multidão, solta por aí, sou movida por uma inquietação que me faz escrever. Aceito, oras, questionar o quê? Escrevo, e está dito, escrevo por pura neurose - nem sempre por gosto - e não sei exatamente em que buraco escuro esta vontade contraditória vive, onde este querer, não querer, se alimenta. É uma fome que não termina, uma falta que me alicia, e ainda que diga não - cansei, não quero mais - vem a vontade em busca da minha submissão. Porque a vontade selvagem me submete, me sufoca, e só me larga se escrevo.

Escrevo. O antigo, novo e desconcertante. Mentiras, verdades que não foram ditas, e invenções ainda não descobertas, não importa, eu desejo cada palavra, desejo capturá-las apenas porque preciso existir dentro delas, preciso de uma casa para morar. E vem junto um prazer, uma ausência de mim, vou me escrevendo no Diário - meu pequeno inventário intimo, este prazer maior que o sexo...

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