quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Relâmpagos

Ninguém pode impedir o segundo mágico do pensamento.

O pensamento esta morada segura, catre dos tímidos, rede do sonho, o pensamento, mundo intransponível, onde pelos olhos meus entras no relâmpago que se faz quando te vejo, como em um filme onde os frames se misturam, como em um filme onde a cena se torna outra, outra, outra e mais outra, luz, raios cruzam a porta do pensamento que por agora é uma câmera invasiva, o próprio olho é o pensamento, a gente sem personagem, sem texto, sem cortes.

Ficas a vagar na minha frente e te rapto com meus olhos para o abrigo confortável onde te tenho no fascínio do pensamento porque quando estás na minha frente nada mais posso fazer a não ser calar, viver, deixar existir a realidade do jeito que ela me quiser. A realidade, eu a adoro, ela me deixa de perna bamba, e me encanta quando dança, dança em mim.

Mas eu deixo. Deixo que nada aconteça, deixo como está, quando te vejo penso apenas penso e me torno um pouco menos humana, me torno um pouco melhor do que fui, procuro a verdade de cada pequena emoção e esqueço o meu ser cheio de razões e insanidades, cheio de mimos, para que nada interfira entre você eu, entre você e eu só nós, só eu estou a te olhar. Devo te contar, devo - olho fundo e com delicadeza, para não provocar estragos, não ter turbulências, não ter que catar os cacos - aqueles que, me ferindo, pisarei - e te trato bem e te admiro e te protejo e me protejo de mim.

Eu que sempre tive opinião e sempre disse - quero a realidade e não a normalidade porque ser normal é uma coisa doida cansativa - descobri que quero ser melhor, e ser melhor às vezes é apenas não ver, recolher, ser uma escolha a menos, um não querer tristonho e sincero.

Desculpa se paro agora este bilhete que nunca lerás pois mal e mal desconfias o quanto estás a passear pelo meu pensamento, o meu pensamento é um relâmpago e eu preciso parar porque quase chove, chover de verdade, e eu tenho medo, um medo doce, aquela espécie de medo do qual não se tem medo, aquela espécie de medo que se quer desbravar.

É o meu pensamento que está querendo viver.

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