segunda-feira, 12 de maio de 2008

Som e Música

Estou silenciosa. Distante das palavras. Não quero explicar, preciso desta desobrigação do pensamento. Preciso mergulhar no instante das águas ainda serenas, no mar do silêncio profundo e inconsciente, preciso do exato instante anterior ao da primeira respiração, quando ainda não havia ordem, apenas eu, ou o vir a ser de uma existência, apenas eu e minha própria música.
Toda uma vida feita de trilhas sonoras. Esta sou eu. Lembranças musicais, impressões e notas. Para cada acontecimnento a emoção divaga, passeia, dança em mim. E agora estou a regredir ao encontro do silêncio. E regredir é bom. Como recuar concentrado, firme, a tomar novo impulso para o salto definitivo.
Regredir é como afastar, a passos largos fincar distância, para que o pulo seja a medida da liberdade, a possibilidade de se atingir a maior e mais perigosa profundidade do mergulho. Medo, coragem, abstração e silêncio. Quanto mais se avança para o salto, loucura e ausência.

Acontecimentos. Para todo acontencimento uma trilha sonora, uma maneira de compor a vida. A vida na partitura. Quando eu nasci tocou uma música suave e triste, mas havia tambores, enquanto podia me ouvir nesta confusão de contrastes.
Nascer, a morte absoluta, o desconhecido - nascer é obscuro - esta espécie de morte cheia de som e medo. Nascer foi um estrondo, uma sinfonia repleta de medo e bravura. Eu somente, a mistura de humildade e desejo, soar de tambores e fragilidade. Eu somente, dentro daquele som feito de desespero e êxtase. A respiração que era minha, só minha, o que me restava, o eco - um temor indescritível - o próprio desejo pela vida.
Agora estou silenciosa.
Estou a me ouvir, a me misturar com certos barulhos, estou no mais discreto sussurro, sussurro, sou um gemido, sou a voz sem palavras, sem verbo algum, sem orações. Estou a me ouvir no silêncio.
Eu sou o silêncio em uma outra apreensão do mundo. Suspiro, gemido, sussuro.Eu como o silêncio. Sou uma necessidade acima da ordem.
Eu sou aquela falta de som antes do nascimento.

2 comentários:

Izabela disse...

Ter a vida, viver a vida, dar a vida... e ainda combinar trilhas sonoras...

Parece tão simplesl, mas ainda pode ser tão assustador...

Bjs

Izabela disse...

Espaço para o silêncio...