quarta-feira, 25 de junho de 2008

A Vida na Chama da Vela

...a madrugada tem mistérios que devem ser tomados como quem degusta uma bebida rara. A madrugada e seus mistérios devem chegar sem atropelos porque a revelação trazida no escuro da noite, no alvorecer do dia, pode ser incômoda, como um carinho que ainda não se está preparado para sentir. É preciso estar pronto para recebê-lo, pois o escuro da noite tem a doçura que não transborda. O silêncio da noite dorme balançante na chama da vela, a vida existe e eu a sinto, no cheiro de oliva e ervas. Eu respiro o escuro da noite que entra pela minha porta, a madrugada está simples e sem mistérios porque eu estou simples e sem mistérios, estou primitiva...

...meditar é não pensar, é outro estado de ser, é entender de um modo não humano, ir onde os pés não chegam, onde as mãos não tocam. Não há verbo no meu pensamento apenas o mistério dentro de mim. Não há razão, não há objetos, nem eu, nem você. O que há é a ausência do corpo noutro corpo profundo, onde não enxergo com estes meus olhos que parecem cegos. Medito. Já não preciso dos sentidos na madrugada porque eu a bebi vagarosamente e com delicadeza. Medito.

...A madrugada brilha, me toma, ela inteira e seus mistérios. O silêncio é intenso. Estou só e o silêncio é meu. Estou incrivelmente só. Não há o que temer, sou um eu sem eu, sem corpo, mas minhas mãos flamejantes tocam o escuro da noite, a madrugada, que recebo como um carinho que estou preparada para sentir. Meu espírito está em festa.

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