Quando eu me apaixonar novamente imagino, será um dia lindo, de seu azul claro brilhante, Verão de cigarras cantando às cinco horas da tarde. Porque ando a ver as cores do mundo depois de muito tempo, tempo noir. E faz tempo, tempo demais que não sinto a alegria de respirar, faz tempo, tempo demais que me vejo a andar sozinha por aí, na solidão calma de viver, na minha casa, com meus amigos, fazendo cantos de esperar, tão eu, nos detalhes que tenho para dar.
Quando eu me apaixonar novamente quero estar assim: com jeito alegre de acordar, do mar sentir o cheiro, no céu a fantasia do escuro da noite, o puro arder do dia, e viver o amor nos minutos da primeira aurora. Ao novo amor um gosto antigo eu daria, e se eu o tivesse, novíssimo amor que já estava aqui, esperado amor de novo eu diria palavras que já estavam escritas, imagino, na cor imprecisa dos respingos da madrugada, na súbita aurora, o beijo demorado e a anestesia - no susto da taquicardia. Convido para ver, comer comigo este instante recheado do que não podemos revelar.
Quando eu me apaixonar novamente, sem enganos de mim diria, e diria de pronto, que não quero amor soturno, quero quem me for solar e quente, nada dolorido, não posso gostar de museu e ele de cassino. Eu topo amor fazer tudo, mas meu bem, meu bem, vamos falar a mesma língua. Eu sei o quanto ser natural me é difícil quase sempre, e sempre, ser igual a todo mundo. Eu gosto de palavras sem sentido e rio quando não é preciso, eu gosto de vinho tinto e beber tristezas até secar, crio palavras doces para não enjoar e toco, e te toco a ponta dos dedos para me lembrar...
Quando eu me apaixonar novamente - e para estar tudo certo - confessaria sem perder tempo que eu não tenho lá muitos talentos e sou aquele tipo: básica, simples, crédula e sempre a insistir na vida com mania de ver poesia em todas as coisas.
Quando eu me apaixonar novamente, no lugar onde a dúvida paira - na minha timidez que cala, e se estiver atento, ao invés de palavras te darei só o meu silêncio.
Para quem sabe você amar também.
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