terça-feira, 8 de junho de 2010

Composição

Eu não sou aquela que a minha mãe gostaria, não sou.
Quem acredita que sou mãe de três filhos, sem manto, sem véu, sem ave maria?
Quem acredita que acho a vida difícil e boa como as frases redundantes que escrevo, feitas de incertezas e poucas verdades.
Quem acredita que existe o p
razer da poesia como na vida feita de imaginação e ondas revigorantes.

Que sou crédula e insegura e não sei, não sei e tenho medo, não sei e tenho medo de estar na vida sem saber, que de fato estou na vida sem saber - mas estou - e ainda digo: meus braços estão abertos e sigo experimentando o correto caminho do desconhecido onde faço uma certa confusão de cores, onde ouço música, em busca em busca, à procura do bom gosto. A natural sofisticação do básico e a beleza do que é humano.

E se eu morrer amanhã saiba que não acredito em mais nada e acredito em tudo que me der vontade, que a vida é uma reinvenção em si mesma. Saibam que tentei ser a simplicidade de um dia após o outro. Um dia após o outro, um dia, um dia após o outro. na cadência.

E se eu morrer amanhã saiba que eu me emociono. Eu me emociono com o mínimo que me faz sentir viva. Os sons e o silêncio - o silêncio triste do vazio e da morte - pode ser muito completo.  Eu acredito que os mundos são feitos de música, música e poesia, pinceladas loucas, tudo é composição, tudo é feito de pensamento criativo. Eu serei aquela que imagino e quero, aquela que construo e destruo persistente. Eu não sou o que esperam.

Eu não sou quem minha mãe gostaria, não sou.
Quem acredita que eu sinto a passagem das horas pelas emoção, esta complexa fagulha,  ao abrir os olhos, e não se queimar. Quase parece um pecado. E que eu tenho três filhos e não tenho certeza sobre coisa alguma? Quase parece um defeito.

Mas quem acredita que na poesia de não saber a gente pode viver?
Que a emoção vive da incerteza, e desaprendendo a gente pode viver.
Eu não preciso de verdades, eu preciso de imaginação e todos os dias fazer o igual diferente para que eu não perca por aí minha emoção em troca das facilidades. Eu preciso dar importância ao que não sei explicar direito. E tenho a certeza de que não quero contar minha vida pelos dias dormidos. Eu não sou quem minha mãe gostaria, não sou.

Que eu permita aos meus que eles sejam porque eu os ensinei a não serem meus, e que eles sejam sejam sem cansaços porque é a única forma de se estar vivo. Saibam que o amor pode ser apenas o querer bem da vontade.

Quem acredita nesta lucidez estranha, feita de pequenas loucuras de liberdade?
Eu não sou quem minha mãe gostaria, não sou. Mas a vida tem um manual com meu nome.

5 comentários:

Andresa disse...

Essa leitura me fez pensar o quanto é boa e bela a incerteza...adorei...

Unknown disse...

Vc,com certeza, deve ser quem seus filhos gostariam, é sim.

NA PISTA COM ELES ... disse...

Somos quem devemos ser e nunca o que esperam que sejamos.
Nosso compromisso é sempre com a verdade, a nossa verdade.
Ótimo texto.
Bjs

Carol Aquini disse...

Nunca somos o que nossas mães gostariam, por isso que é bom e dá certo!

izabela disse...

"não quero contar minha vida pelos dias dormidos..." Sensacional!