terça-feira, 29 de junho de 2010

A Sua Discreta Presença

(Para minha filha Clarice - Maio 1994)

Preciso de um verbo, tradução de sua presença.
E para o seu estar inopinado me acalmam somente revelações proféticas.
Meu corpo gravita, meu corpo é um planeta. Está cheio e lunar o meu corpo satélite. Habita-me o invisível, o cosmo, uma nova galáxia dentro de um corpo primitivo.
Lacrimejam meus olhos porque precisam de um telescópio, os olhos meus, para ver o que trago em mim como um céu, o céu que me cobre a cabeça, a terra que me apoia os pés e o mar, o mar, meu céu terrestre, a confundir meus horizontes. E para enxergar a você, meu astro celeste, preciso de um telescópio – e de toda a incrível ciência. Preciso de um verbo que o denomine.
Perdoa, desde já, esta minha primitiva rudeza, perdoa. Na verdade, sou alguém que pensa, que pensa que sou, e deseja amar compreendendo.
Tento não explicar você, meu corpo celeste, tento não colocá-lo na minha gramática, na minha esquisita ciência. Ama-lo-ei incompreensível e natural como a haste verde surgindo no lodo, na terra seca, numa cratera.
Viva em mim, minha nebulosa, e sem permissão vingue em mim, mais sábia do que tudo existente e - maior - em sua luz que o mundo meu não alcança.

3 comentários:

Izabela disse...

Vc sempre me emocionou muito. Sua escrita é muito especial!Queria escrever desse jeito...
Lindo, lindo, lindo!
Cadê seu livro?

Anônimo disse...

eu te amo tanto

Scient disse...

Que texto lindo!