sábado, 4 de junho de 2011

Amanhã, Amanhã

amanhã posso não estar mais por aqui
neste mundo, nesta noite fria do baixo gavea
no meu quarto, na minha cama, na vida, 
na taquicardia que me assola
na tristeza sobressaltada, amanhã nunca mais
inseguranças e crises de ansiedade


amanhã posso não estar mais aqui
e vou sentir falta
da paz no escuro do cinema
do chopp e do amanhecer,
daquela emoção imprevista, e saibam todos
que amanhã quando eu não estiver mais aqui 
vou querer musica ao invés de choro
vou querer poesia ao invés de lamento
vou querer meu nome sem tristeza
sem lente de aumento


amanhã posso não estar mais aqui
mas alguém vai contar das minhas esquisitices e caretas
das frases soltas e das minhas deixas
as pragmaticas crenças
e das minhas insistências
obscuras, 
de alguns vícios e do humor discreto
da mania de querer ser Vinicius
apesar dos pouquíssimos amores
e no meio de tudo 
dentro daquela ausencia, e na hora do silêncio
alguém há de anunciar que fui feliz


amanhã posso não estar mais por aqui
e vou sentir falta
das noites escuras iluminadas, noites claras e invasões bárbaras
no canto do quarto, bem aqui 
na varanda, na esquina, e no banco
do pe'ahi,
vou sentir falta dos meus filhos
do amor dos meus amigos
de olhar o mundo dos bastidores
dos risos vou sentir muita falta
de escrever
os textos que escrevo tomada
de enorme prazer
e pelo medo
porque alguém que eu adoro vai ler, e vai me ver
e será que ainda vai me amar, será que vai enxergar, será que vai entender?
Será que vai ser desta vez?

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