sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O Dia Interminável

Acordei.

São cinco horas da manhã, o céu está azul claríssimo. A lua cheia e branca está viva.
Café. Suco de manga. Já são seis. O azul está mais azul no céu da lua cheia, agora muito ao longe, como você que não está aqui.

Onde quer que você esteja, e mesmo não estando aqui, vou te colocar no meu dia.
O café está quente, cheiroso, meu café é gostoso. Já são oito horas. O sinal sonoro da escola municipal em frente da minha casa toca, toca, mas você não sabe disso. Nem que eu faço bons sanduíches e panquecas para comer com queijo e mel. Muito embora você saiba que eu adoro agua de côco logo de manhã e que gosto de comer maçã. Ah, para mim já está bom. Para quê saber mais, não é?
Que eu gosto de acordar cedo e tomar banho quase frio. Que eu gosto de voltar pra cama com o cabelo ainda molhado. Que eu gosto de dormir com você.

Nove.
Eu gosto dessa hora da manhã. Eu estou de férias. Vou cozinhar peixe com limão e pimenta, misturar o ácido com o ardido e comer com batatas chips coradas no forno, crocantes e salgadas, salpicadas pela salsa. Assistir filmes, antes do meio-dia, gosto muito, isso eu te contei. Mas eu estou de férias de você.

Meia hora depois das doze, Etta James canta para mim, a comida traz um sabor até a sala, e eu sinto uma saudadezinha boa de você, uma saudade daquelas, linda e breve, feita de uma lembrança que já não recordo ao certo, está esmaecida, mas como já expliquei não lembrar é melhor que esquecer. Não lembrar é muito melhor que esquecer. Dá uma saudade aumentada e logo depois começa a tocar Arnaldo Antunes.  
Então eu resolvo escrever para colocar você na minha história, para lembrar de aprender a esquecer. Para sentir que a ficção é maior que a realidade, para viver a poesia que é maior do que qualquer sentimento, é o sentimento de todas as coisas, boas e ruins, que passam por nós. É falta de nexo que arruma a bagunça. A poesia é a  angústia e a descoberta daquela palavra que tanto se procurou, é a busca. A poesia é a frase certa e o alivio, é o não sei. Sou eu e é você.

Três da tarde. O sol vai alto. O dia quente brilha. A música ainda toca aqui em  casa. Ela me toca, me toma a cabeça, recheia meus pensamentos, que estão em um lugar desconhecido. A música me traz alguém, me traz de volta, me traz pra mim. Então eu confirmo, que a felicidade transforma, que a tristeza é um deja vu que se deve esquecer mas a gente gosta de lembrar. A tristeza é confortável, como um sofá acostumado com a gente. Vamos deitar pelo chão e ouvir Bethania sem medo de ser feliz. Para quê saber mais, não é?

Que eu gosto desta alegria que assalta à mao armada. Que eu gosto da euforia, da febre alta, de Stella Artois bem gelada. Que eu gosto de dormir com você.

Às três horas da tarde toda confissão é válida. Então já não sei sobre a ficção, a realidade. A literatura me coloca "no lugar onde quero estar", e esta frase peguei emprestada de você, porque às três horas da tarde só me resta a  liberdade, é como ser feliz por um momento, não importa, a felicidade pode ser um peso pelo medo da certeza de que vai acabar. Não me importo, se tem uma coisa que não sou é covarde, então eu posso te contar desta saudadezinha, perigosa e não comportada, que surgiu hoje só porque eu estava feliz por nada, neste dia comum e burguês.
Ouvindo musica, cozinhando e pensando em você. E para quê saber mais, não é?
O dia nem terminou ainda, dia interminável.

Um comentário:

David Pinheiro disse...

ameeeeei!!! sem sustos, sou eu, marina hahahaahaha, vc só apagando fogo com gasolina ne?