terça-feira, 23 de agosto de 2011

Tudo Igual De Modo Diferente

Não se pode banhar duas vezes no mesmo rio. Esta frase marcou por boa parte da minha vida.
Mas o difícil é reformular a tendência de querer o concreto, o cristalizado. É triste e fantástico perceber a impermanência. O movimento da vida.
Morrer para nascer todos os dias. É o preço da liberdade. Quem quer chupar essa manga? Quem vai dar a cara para o tapa? Mas no fundo, mesmo que não consiga a tranquilidade do desapego, estar consciente já é um alivio. É entender que só na impermanência se pode viver. E porque se aborrecer, quando já se sabe, que o fluxo é independente de nós?
Vou deixar que venha, vou deixar que me fira a ruptura e morrer um pouco a cada dia.  Vou deixar que me assombre o desconhecido e vou me permitir aprender novamente qualquer novidade.
Eu vou mergulhar neste rio, vou sim, mil vezes. Ele jamais será o mesmo.
Então, ouvirei aquela voz me dizendo: - se vira aí, minha filha, e aguenta essa dureza do mergulho, do profundo, da falta de ar. A dureza necessária para entender.
Vou deixar a vida tomar conta com sua lógica torta, sua lógica não matemática, para compreender abstrato. A certeza de que não há freio, que a vida não vai parar para me esperar. O que ela quer de mim  é esta calma, a calma complacente e louca.
É o que farei. Estou perigosamente calada. Mansamente em silêncio. Tem dias que acordo e não quero nem ser eu, estou apenas me fazendo companhia. Estou a observar, mapear, me perdendo nos labirintos. Dentro de mim tem buracos negros, jardins e grutas, um escuro gotejante, uma mata fechada e úmida, mas eu tenho também bancos de madeira para sentar ao sol. Tem muitos eus e vários deuses. Estou a passear. Com a calma necessária ao medo. Não quero ser eu. Estou no labirinto e na contra mão. 
Há vinte e dois anos nasceu meu primeiro filho. Hoje eu tenho três. Com vinte e sete eu liguei as trompas. E nada que eu faça depois disso terá a mesma importância, o mesmo valor, a intensidade da aventura. Tudo tem um preço. Como sou uma pessoa educada, peço licença e sigo, não olho para trás, não pego espelho emprestado.
Agora eu vou dormir. E começar de novo amanhã, um dia igual.
Tudo igual de modo diferente.


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