terça-feira, 14 de agosto de 2007

Sob encomenda ou o beijo que queria dar

Para Ananda que me sugeriu o tema e fez várias contribuições fundamentais ao texto, obrigada pela inspiração


“...os pares, se encontram, assim do modo que deve ser, naturalmente acontece porque para o sonho, quando você o deseja muito, todo o universo conspira, conspira no gesto, no gosto, na falta de lógica, conspira no beijo...
...o silêncio, o sentir do prenuncio - a pré morte – diante da aproximação de alguém, respiração, lenta como um vento quente da tarde que paralisa o corpo, a chegar tomando conta do espaço. E não há mais espaços, o que há, o que posso ver na curta distância que alcanço, onde meus olhos focam, são quadros, são as partes, lábios, reentrâncias, detalhes, me esperam, e que eu teimo em dizer me esperam, mas seria ingênuo qualquer ato da razão quando se sabe que não há tempo, não há esperança, o que há é a certeza de que os pensamentos atrapalham e os beijos se atraem...
...o som alto, as luzes, o ar quente da tarde, a multidão me engole mas sei que vou encontrá-lo aquele a quem hoje devotarei o resto do dia, são quatro horas da tarde, abafado, poeira, mas sei que vou encontrá-lo pois não existe lógica quando os pares se atraem...
...a noite continua quente, o céu negro, lua esfumaçada, quero fumar um cigarro, acende um, me passa, te olho entre a fumaça, e como me arrebata, tudo o que fazes sem querer, a espontaneidade tua me traz o silêncio, e essa música então, me faz camaleão, ausente, com meus pensamentos, me concentro mais em ti, me preencho, porque afinal só os corpos se atraem (penso no Manuel, velho poeta, quantas vezes me salvou)

“- As almas são incomunicáveis. Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo. Porque os corpos se entendem, mas as almas não.”...

..vem, vem meu bem porque o meu colo te espera, quero perder este foco, da boca e da curva do teu queixo, dos pequenos nódulos da tua garganta e com todas as partes que não vejo vou construir um beijo, penso que a emoção também é uma forma de arte quanta coisa abstrata crio, quero essa arte agora quando te vejo, eu não te vejo, eu te beijo, e já não é mais o mesmo, é esta conjunção de pedaços que fazem espécie de arte que crio enquanto te beijo, porque eu não te beijo simplesmente, como quem faz uma rotina de todo dia, não são duas bocas que se tocam, se te beijo te esquadrinho, te descubro, te invento, não te beijo como quem dorme e acorda e acorda e sonha que sonhou mas nem sabe...porque eu não te beijo com a boca, eu te beijo é com o corpo inteiro!

3 comentários:

Nena disse...

pq um beijo é um beijo...

A.Nanda disse...

Ah q saudades desse tempo! Qdo um beijo era só um beijo e tinhamos ansia de beijar!

Cris disse...

eu tb amiga, eu tb, acho que não sou mais essa pessoa...