domingo, 9 de setembro de 2007

Oito Anos

Oito Anos


Quero me lembrar dos meus oito anos. Quero me transportar para aqueles olhos, para aquele tempo, para aquela consciência de alquimista que só se pode ter aos oito anos. Quando ainda estão por vir os vícios, os assombros, as mágoas que não se retocam. Quero os meus oito anos, um sentido, longe dos arrebatamentos, longe das encruzilhadas, da fúria que há de vir. Saudade tenho daquele tempo que foi tão pouco, tão leve, qualquer idade anterior aos meus oito anos. O que restou daquela bolsa d’água que me alimentava? O que foi feito daquela crença , daquela verdade? O que eu fiz da certeza de ser completo como um anjo de Deus?

Hoje me parece bastante difícil alcançar quem eu era, mas eu era enfim, um anjo bastante fiel, e me agrada pensar que talvez eu ainda esteja sublime como antes. Antes do mundo, antes do conhecimento que se fez necessário, e bem antes das descobertas acidentais. Sim, eu fui um anjo. Um anjo alquimista. Alguém é capaz de entender esta imensidão? E se me perguntarem porque somente aos oito anos se pode ser, experimentar a vida como um alquimista em devaneio, responderei com a voz em contrabaixo - responderei quase mostrando o óbvio, mal escondido entre a poeira e o pó grosso: - É preciso acreditar. Acreditar que o importante não é a vida em si, a mecânica, o fato ou a tragédia. O que vale é saber que a verdade está na infância, naquele tempo em que o mundo é todo seu.

Guardo as relíquias dos primeiros anos. Aquele cheiro da vida, fragrância doce quase impercebida de um jardim farto de sol, calor morno, flores, e zumbidos. Tento resgatar o que existia e ao qual já não consigo nomear. Quero voltar à paz daquele tempo onde tudo respira e é genuíno. Quero abrir os olhos sendo a vida despertando, e deitar os dias a fruir, somente a olhar quem eu amo.
Não tenho asas, não sou anjo, mas um grande amor pelo mundo senti aos oito anos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Beijos!Delícia de texto!
Cris Braga