segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Quem tem medo do Afeto?

Afeto. Palavra feita para viver. Viver a palavra, comer a palavra com recheio. Recheio doce na medida certa, sem enjoar. É proximidade e conforto. Palavra que só existe quando exercida. O afeto precisa de nós, é matéria viva nas atitudes. Ele está nos pequenos gestos - não é apaixonado e nem pede revoluções - ele grita por compaixão, empatia, calor. Para a maioria das pessoas pode ser complicado pois o afeto é de uma simplicidade difícil de alcançar. Em geral, no rol dos sentimentos, o seu momento de existir costuma passar despercebido - ou é tão fugaz que não damos conta de aproveitar. Pronto. Agora, em algum lugar dentro de nós podemos senti-lo, e como um diamante que nos machuca, fica por lá, a pontada aguda do afeto cristalizado.

E porque não precise de grandes manifestações e rompantes se mistura em gestos  estranhos. Existe o afeto cobrador, que espera para receber de volta e dar o troco.  Tem  um tipo de afeto que quer existir mas não sabe de que modo. Entre tapas e  sarcasmo, fica gozador e descomprometido. É o sentimento na contramão, oculto e fraco, que ainda não descobriu o poder da gentileza. Usa a metáfora da violência porque não sabe como ser humilde, tem pavor da doçura e se sente nu vestido pela delicadeza. 

Sim, ele se sente nu e não sabe desfrutar deste prazer. Ainda não descobriu que o afeto, o afeto de verdade, precisa da nudez. Deve ser como uma erva milagrosa, um remédio para expandir a alma. E expandir o tempo que se mede por aquilo que fizemos das nossas emoções. O afeto faz do tempo um calendário de gestos, o tempo contado pelo imaterial, pela vida construída de pequenas sensações.
Não quero a passagem das horas mas as transformações. O afeto é um delírio.

Estou a criar, a inventar este tempo que me deixa mais forte, a permitir que ele tome conta de mim. O tempo que não me envelhece, e nunca é em vão, porque está carregado da imensa fragilidade chamada afeto.



3 comentários:

Rachel Lamm disse...

cris, tô em falta....mas t/õ por aqui!!!!
beijocas, raki

Anônimo disse...

Belas percepções!
O bacana é tentar se permitir,mesmo
E depois vem "Quem tem medo do Afeto 2"
Rsss
Bj

Anônimo disse...

Lindo e de uma sensibilidade ímpar como sempre amiga...beijusss!