quinta-feira, 12 de junho de 2008

Fantasia

Pela janela passa brisa fresca e noturna. O barulho da rua se mistura, na escuridão sem lua, ao frigir suave das ondas. No ar um cheiro de maresia. Causam-me felicidade os odores e este, especialmente, entra pela janela, poroso e ardendo.

Já passa de meia-noite e o mar invade o quarto. Sinto areia arranhando as pernas, ouço a melodia que vem da praia e na escureza da noite, nas águas de maré vazante, batem mornas as espumas no úmido dos meus cabelos.
O céu escuro e macio se confunde comigo, Lilith, lua negra, sobre o mar.
Sou uma unidade de coisas, sou o começo do mundo.

Entra o ar perfumado, queima lentamente e doce e tão brando invade o pensamento esse cheiro. É impossível ignorá-lo, e como deixar de perceber o que é belo? Aquilo que nos sonhos se encontra, nas emoções involuntárias existe e em velhas canções palpita? O som antigo do mar acalentando a noite - feita de meia luz e penumbra – e este ar cerrado de maresia. Estou, sou, hoje e sempre, esta noite, este perfume.
Se nas mãos seguro areias, se na boca carrego sal, se entre as pernas sou mulher, como explicar a cauda de sereia?

2 comentários:

Anônimo disse...

adorei!
ondinas, ondinas, ondinas...

Izabela disse...

Tb adorei...