sexta-feira, 5 de junho de 2009

Sol da Meia-Noite




Eu queria poder te contar coisas, coisas que descobri sem querer, no estalo, como dizem por aí. E te dizer daquelas que aprendi no tempo, na solidão e no meu próprio tumulto. Queria poder te ligar, te encontrar de repente, só para revelar que descobri - acima de tudo - a graça da vida, a beleza dos detalhes. O belo está no detalhe. Dos objetos, das pessoas, do gesto, das histórias.

Eu bem sei que tudo já foi dito. Mesmo isso de escrever que tudo já foi dito, já foi escrito. Estamos em uma conhecida repetição. Façamos direito, sejamos autênticos. É decisão nossa onde colocar o detalhe. E ele nos libertará.  Estou certa de que a vida de uma pessoa se define muito mais no detalhe,  do que nos grandes feitos. Porque tanto as gentilezas quanto o amargor podem mudar o rumo de uma história.

Por isso, eu queria te contar sobre as minhas pequenas jóias, vivências sobre as quais não se dá importância. Eu descobri que nem todo fim é marcado por tragédia  e  até  na tristeza pode haver compreensão, entendimento. O antes do fim, o antes do fim é intenso, é uma canção de amor, um lamento apaixonado, digno. O antes do fim é feito de fenômenos,  orgasmos, beleza, noites brancas. E depois - tudo bem - algum sofrimento e choro.

Queria te ligar, mas às vezes é dificil, é estranho te falar sobre os detalhes - e sobre esta descoberta que ao mundo parece irrelevante mas para mim, faz todo o sentido do mundo. E gosto de pensar que serei bem-vinda, amorosamente bem-vinda, porque é muito este pouco que tenho para te dar.

Quero te dizer que existe ciência nas coisas independente da nossa vontade e que a vontade, que nos faz desejar incondicionalmente, é fundamental mas não é ciência de fato, é ciência íntima. Quando o telefone tocar, você vai atender, vou te convidar para um café, depois me sentarei à sua frente e te falarei sobre o Sol da Meia-Noite, o maravilhoso crepúsculo. O antes do fim é o Sol da Meia-Noite repleto de arrebatamento e clamor quando o sol não se põe durante - e até - noventa e cinco horas.

Quero ir à Finlândia, para recostada numa espreguiçadeira de madeira, comer um sanduíche de salmão, enquanto assisto sem pressa ao pôr do sol. Depois, vou descansar a minha mão sobre a tua nesta hora, quando qualquer palavra se tornará imprópria.

Vou viver os detalhes, os mínimos detalhes da cena, sentindo a eternidade de noventa e cinco horas.  
Eu nunca fui à Finlândia e nunca vi o Sol da Meia-noite.
Eu só conheço você e eu.

3 comentários:

Unknown disse...

Sábia mulher. Tudo isto é muito lindo.

A.Nanda disse...

Lindo, lindo lindo!

sensação de violeta disse...

belas imagens descritas, vc sempre falando das coisas que são praticamente indizíveis,é tão inteligente isso! beijos.