terça-feira, 28 de junho de 2011

O Mais Que Perfeito Silencio Do Amor

É noite. A cidade dorme, eu te olho. Tudo é inquietação e medo, espera e euforia, me equilibro entre o imaginado e o não vivido, o que ainda está se formando, e no segundo entre a espera e o movimento, quando o desassossego se transforma em coragem capaz de romper represas, é a intrépida coragem que me aproxima de ti. O que faço com o destemido medo? Nada. Não quero o desejo afoito, quero apenas estar.
Não preciso de atitudes, elas já não me sustentam, preciso do que for genuíno, necessito do primário instante das coisas, o abraço da noite, teus braços na noite, não é medo o que sinto, é muito mais, é a indescritível emoção da vida.
Tudo em silêncio, a cidade dorme. Meus olhos debruçados em ti - se animam - como um pintor que deve ir além do que vê, do corpo e das linhas, olhos, queixo, nariz, e pela alameda dos teus ombros sigo a curva mediastina do teu peito. O tempo evaporou. Não existem mais segundos ou milênios, o agora é o tempo que se materializou e se torna concreto em nós, nos gestos que faço ao te tocar. O tempo pára no contorno da tua boca, nas voltas infinitas de um passeio onde desenho o esboço de um beijo.
A cidade dorme, te olho, estou inteira e sem perder o rumo - e se falasse alguma coisa, explicasse, deixaria ao largo palavras desgastantes - a mente esquece de funcionar. O olhar é uma coisa tão doida - eu me pergunto, mas não quero pensar - o que será daqui por diante, o que será? Eu falo por dentro e me escuto - vive, vive agora, porque não vai mais voltar.
Sorrio enquanto a cidade dorme. Minha respiração é lenta, todo o universo no mesmo lugar, mil anos luz se passaram eu sei, não me preocupo, não me atrevo a atropelar. Não te beijo, eu me aproximo porque o beijo já está. E tudo espera, enquanto sinto, adivinho, enquanto paro pra respirar, e presto atenção em ti e te olho, em um modo muito próprio de beijar. Quero me demorar neste caminhar distraído - não invento – estou com o gosto profundo dos sentidos, não tenho pressa, por agora a proximidade é o teu perfume a me guiar, são detalhes, paro, fico, estou pintando uma tela que não dá vontade de terminar.
No lugar onde quero estar, do outro lado da vida, algo diferente acontece porque me pego a rir, sem assunto, sem ter o que falar. Nenhum pensamento me aflige, estou fluida, em outro estado químico, sou uma intuição.
A cidade acorda devagar...
Silenciosa e grave estou, vem ficar mais perto, o dia vai raiar e o céu muda de cor, estou lírica e meus olhos continuam em ti, a emoção não está de brincadeira e um cuidado me comove. Pudera eu te perguntar, o que foi a tristeza que vejo no teu olhar? Sem perguntas tampouco, aceito e te trago para mais perto.
Não vou pegar atalhos, vou escrever este final singelo de um querer bem e novo com jeito de amor antigo, deves saber que ainda te quero da maneira que és, sem tropeços.
Deixa a tristeza em minhas mãos, eu te peço, o que posso dizer é que ela há de passar...

2 comentários:

yasmin gomlevsky disse...

incrível espelho de um apaixonado que vê quem ama complicado dormir

Carol Aquini disse...

Um dos melhores.